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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

INFLUÊNCIA DA MÍDIA SOBRE O CORPO DO ADOLESCENTE


A influência da mídia nos distúrbios alimentares e uso de esteróides anabólicos em crianças e adolescentes.

Sabe-se que devido à grande penetração das diversas formas de mídia na maioria dos lares de nosso país, as escolhas de crianças e adolescentes são cada vez mais influenciadas por comerciais, sejam eles televisivos ou até em forma de pequenos jogos na internet. Principalmente nesta fase de adaptações e mudanças, padrões pré-definidos podem afetar negativamente o desenvolvimento emocional e o comportamento-relacionamento intra e inter-pessoal. O que vemos atualmente, são padrões de beleza midiáticos (alta-magra-loira para as meninas ou o alto-forte-loiro para os meninos) na maioria das novelas ou chamadas comerciais.
Este bombardeio de informações acaba criando predominantemente nas meninas (mas não exclusivamente), distúrbios alimentares como a anorexia e bulimia. Nos meninos, normalmente nos anos finais da adolescência, esta busca pelo ideal criado, acaba se caracterizando pela utilização de esteróides anabólicos.
Na Internet, estão disponíveis sites que ensinam desde como fazer e como não deixar os pais perceberem o distúrbio alimentar e, também, quais os produtos e métodos de utilização de fármacos para perda de peso ou ganho de massa muscular. Entrando em sites de buscas e digitando o nome de um hormônio ou suplemento alimentar, encontram-se desde artigos científicos até como se toma e faz mais “efeito” combinado com tais outras substâncias. Normalmente, para não dizer todas as vezes, as informações estão erradas e são dadas por pessoas leigas e sem formação alguma, que tentam vender seu produto. Lembra-se também, neste caso, que a maioria destas drogas deveriam apenas serem vendidas com receita médica ou veterinária e uma outra parte é proibida de comercialização no Brasil.
Segundo DERENNE; BERESIN (2006), “através da história, a imagem corporal foi determinada por vários fatores, incluindo política e mídia. Exposição à mídia de massa (televisão, cinema, revistas e internet), é correlacionada com obesidade e imagem corporal negativa, onde pode resultar em distúrbios alimentares”(p.257)
NAKAMURA (2004) descreve a anorexia e a bulimia como “patologias intimamente ligadas, por apresentarem como sintomas comuns representação alterada da forma corporal, preocupação excessiva com o peso e o medo patológico de engordar” (p.15). Uma diferença básica entre as duas doenças é que na anorexia o indivíduo diminui ou elimina a ingesta de alimentos, e no caso da bulimia, após a ingestão se induz o vômito e comumente são utilizados laxantes para “não engordar”.
Tanto a anorexia quanto a bulimia, tendem a se apresentar em indivíduos do sexo feminino, numa proporção aproximada de 9 para 1, podem estar relacionadas com esquizofrenia, transtorno obsessivo-compulsivo, depressão, deficiências vitamínico-minerais, amenorréia e especificamente no caso da bulimia, problemas no sistema gastrointestinal, esofagites, e até perda de dentes.
            Quando começamos a falar do uso de esteróides anabólicos, diretamente se fala em doping, pois “o doping é caracterizado pelo uso de substâncias para aumentar a performance ou burlar testes” (BACURAU, 2004)
            Dentre estas substâncias, estão agentes anabólicos e hormônios peptídicos, onde, os esteróides anabólicos androgênicos ou “EAA” que são a testosterona e seus derivados e; hormônios peptídicos, que entre os mais utilizados estão o hormônio do crescimento “GH” e a gonadotrofina coriônica humana “HGC”.
            Em estudo semelhante, VILELA e col. (2004), com amostra de 1807 indivíduos entre 7 e 19 anos, verificaram que 59% destes estão insatisfeitos com a imagem corporal, 40% utilizam-se de dietas para emagrecer e 56% praticam atividade física com a finalidade de perda de peso.
            Com base em IRIART; ANDRADE (2002), pode-se verificar que a falta de informação e também de dinheiro, faz com que jovens fisiculturistas utilizem-se de medicamentos anabólicos, muitas vezes de uso veterinário (pelo baixo custo) para “ficar forte” ou “ficar grande”. Em alguns casos, compartilha-se até a seringa para injetar o medicamento.
            Quando se verifica a questão dos anabolizantes e seus usuários, surpreendentemente, a relação também é de 9 para 1 (a proporção curiosamente é igual a encontrada nos distúrbios alimentares), porém desta vez, são 9 usuários do sexo masculino para 1 do sexo feminino, segundo SILVA; MOREAU (2003).
Considerações
O que se vê é que em muitos dos casos, seja de transtornos alimentares ou uso de esteróides anabolizantes, poderiam ser evitados se os conhecimentos dos profissionais de saúde (profissionais de Educação Física, Nutricionistas, etc...) fossem difundidos e divulgados nas escolas, nas mídias e entre os pais. Uma mudança de padrões na mídia, com maior diversidade (cultural, corporal e racial) entre seus atores e atrizes pode fazer com que crianças e adolescentes se identifiquem com eles e nessa fase tão atribulada da vida possam refletir e compreender que não existe um ideal que englobe a todos e sim, uma variedade de “individualidades” e que não é necessário que eles comprometam sua saúde, pois não há apenas um corpo perfeito, mas pontos de vista sobre vários modelos do que pode ser o ideal de cada um.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BACURAU, R.F. Anabolizantes. In: LANCHA JUNIOR, A.H. Nutrição e metabolismo aplicados à atividade motora. São Paulo: Atheneu, 2004, p.155-180
COBAYASHI, F.; LOPES, L.A.; TADDEI, J.A. Densidade mineral óssea em adolescentes com sobrepeso e obesidade. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, v.81, n.4, p.337-342, 2005
DAL PIZZOL, T.S.; BRANCO, M.M.N.; CARVALHO, R.M.A.; PASQUALOTTI, A.; MACIEL, E.N.; MIGOTT, A.M.B. Uso não-médico de medicamentos psicoativos entre escolares do ensino fundamental e médio no sul do Brasil. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.22, n.1, p.109-115, 2006
DERENNE, J.L.; BERESIN, E.V. Body image, media, and eating disorders. Academic Psychiatric. v.30, n.3, p.257-261, 2006
IRIART, J.A.B.; ANDRADE, T.M. Musculação, uso de esteróides anabolizantes e percepção de risco entre jovens fisiculturistas de um bairro popular de Salvador, Bahia, Brasil. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.18, n.5, p.1379-1387, 2002
LINN, S. Crianças do consumo: a infância roubada. [tradução Cristina Tognelli] São Paulo: Instituto Alana, 2006
NAKAMURA, E. Representações sobre o corpo e hábitos alimentares: o olhar antropológico sobre os aspectos relacionados aos transtornos alimentares. In: BUSSE, S.R.(coord). Anorexia, bulimia e obesidade. Barueri-SP: Manole, 2004
SILVA, L.S.M.F.; MOREAU, R.L.M. Uso de esteróides anabólicos androgênicos por praticantes de musculação de grandes academias da cidade de São Paulo. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. São Paulo, v.39, n.3, p.327-333, 2003
VILELA, J.E.M.; LAMOUNIER, J.A.; DELLARETTI FILHO, M.A.; BARROS NETO, J.R.; HORTA, G. M. Transtornos alimentares em escolares. Jornal de Pediatria. Rio de Janeiro, v.80, n.1, p. 49-54, 2004
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