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quarta-feira, 2 de junho de 2010

BULIIYING


Metade dos alunos é alvo de bullying

É o que aponta um estudo da UFSCar com estudantes de 11 a 15 anos de três escolas municipais de São Carlos
Pais muitas vezes têm atitudes extremas: ou tratam como se não fosse nada ou tiram satisfação com o autor
DE RIBEIRÃO PRETO
Piadas, xingamentos, humilhações e até mesmo agressão. O bullying, violência repetitiva entre colegas, é cada vez mais frequente nas escolas e, segundo um estudo da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), afeta quase a metade dos alunos.
A pesquisa foi realizada em três escolas públicas da cidade, com 239 adolescentes entre 11 e 15 anos.
Do total de estudantes que responderam ao questionário, 47% afirmaram ser alvos de bullying na escola.
Desse percentual, 26% foram unicamente vítimas, outros 21% foram alvo e também autores e 3% foram classificados como autores.
"É um problema antigo e que tem ganhado maior visibilidade. No entanto, nem escola nem professores conseguem identificar o problema na sala de aula", disse a orientadora do estudo, Lúcia Cavalcanti de Albuquerque.
Para a pesquisadora Ana Carina Stelko Pereira, do Laprev (Laboratório de Análise e Prevenção da Violência) da UFSCar, além da dificuldade na escola, os jovens encontram barreiras em casa.
"A criança ou adolescente demora para contar aos pais porque tem receio do que eles vão achar da situação. Há casos em que a família minimiza o ocorrido e, em outros, tem uma reação exacerbada e até procura o outro aluno para repreendê-lo", disse Pereira.
Segundo a pesquisadora, frases como "não é nada, isso passa" e "vou à escola tirar satisfação" são comuns, mas deveriam ser evitadas porque só agravam o caso.
"O ideal seria reconhecer e mostrar que é realmente um problema e que vai ajudar o filho a lidar com a questão."
Como ainda existe dificuldade em se identificar o bullying nas escolas, uma dica para pais e docentes é prestar atenção ao comportamento dos jovens.
Crianças que ficam sozinha ou que começam a mostrar resistência para ir à escola, por exemplo, podem revelar indícios de bullying.
Escola não tem preparo para lidar com o problema
DE RIBEIRÃO PRETO
"A situação chegou a um ponto em que ficou insustentável e ele revidou. Havia uma intimidação, agressão, e apesar de ser uma criança tranquila, ele agrediu o colega", conta o pai de um garoto que, ao oito anos, foi vítima de bullying.
Após o episódio, o pai foi conversar com a direção da escola para tentar uma solução para o conflito.
Para a pesquisadora da UFSCar, Ana Carina Stelko Pereira, a maioria das escolas não têm preparo para trabalhar a questão e só tomam uma atitude quando acontece a agressão.
"As escolas não reconhecem o problema. Grande parte dos professores acha que o principal é passar o conteúdo e não percebe como é a relação entre os alunos."
Para a mãe de Pedro (nome fictício), 12 anos, o fim da história não foi tranquila. A mudança no comportamento do garoto, então na 5ª série, chamou a atenção da mãe.
"Ele ficava triste, começou a faltar muito. Foi quando, conversando, soube que ele era alvo de piadas por ter um problema de estômago e pedir para ir ao banheiro com frequência", conta a mãe.
Ela mudou o filho de colégio. Por ter ficado três meses sem estudar, o garoto agora faz aulas de reforço.
Pesquisa aponta para reflexos na vida adulta
DE RIBEIRÃO PRETO
As consequências do bullying não se restringem à vida escolar. Além da mudança no comportamento e da baixa autoestima que costuma afetar crianças e adolescentes vítimas dessa prática, os reflexos podem aparecer na vida adulta.
É justamente o que uma nova pesquisa em andamento no Laprev pretende avaliar: as consequências do bullying a longo prazo.
"É um campo muito pouco estudado porque, até então, tudo foi voltado para a questão na infância e na adolescência. O adulto é um outro enfoque sobre o tema", disse a professora Lúcia Cavalcanti de Albuquerque.
A ideia da pesquisa surgiu após um homem ter procurado atendimento na UFSCar. Ele relatou que, na infância, tinha sido alvo de violência psicológica na escola.
O novo estudo pretende analisar os efeitos tardios do bullying, fazendo uma retrospectiva da vida escolar.
Como os levantamentos são recentes -no Brasil, os primeiros trabalhos na área são da década de 80-, pessoas que eram crianças ou adolescentes nessa época podem, hoje, ser adultos que sentem ainda os desdobramentos do que sofreram.
Entre os sintomas da fase adulta, a pesquisadora aponta a baixa autoestima e também a insegurança.


Veículo: FOLHA DE S. PAULO - SP
Editoria: FOLHARIBEIRÃO

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